500 Kc/s: A frequência que ao largo de um século não deixou de velar pela segurança no mar

por | Mar 13, 2017 | Portugal, CRÓNICAS DEL MAR, El mundo en español (y portugués), Historia/Sociedad


Desde su publicación en “Adelantos”, el artículo de Elías Meana ha tenido tanta repercusión en ciertos ámbitos, que hemos querido ofrecerlo también en su lengua al público lusoparlante. Gracias a don Luis Antunes da Silva por la traducción.


Por ELÍAS MEANA. Oficial radioelectrónico de la Marina Mercante.

Por ELÍAS MEANA.
Oficial radioelectrónico de la Marina Mercante.


aparato-radio-sobre-mar

(26 de Dezembro 2016). Desde que, nas Conferências Telegráficas realizadas em Berlim nos anos de 1903 e 1906, estabeleceram-se, respectivamente, os 600 metros de comprimento de onda para a transmissão das mensagens de socorro e segurança, assim como o sinal de “SOS” para o início dos pedidos de socorro, os 500 Kcs (Quilociclos por segundo) como passou a denominar-se a partir de 1960, em função da frequência, em vez do comprimento de onda, foram, até ao seu encerramento no final do século passado, a principal contribuição para a salvaguarda da vida humana no mar, estimando-se, segundo dados da “Organização Marítima Internacional (OMI)”, mais de dez mil vidas salvas, e incalculáveis os bens que não se perderam.

Antes de prosseguir, e imaginando que alguns dos leitores possam perguntar-se como ao longo do século XX, século durante o qual tanto a ciência como a técnica deram passos de gigante, pôde manter-se com apenas algumas variações algo tão “arcaico” como um comprimento de onda e uma técnica que vinha dos princípios da rádio, talvez seja conveniente rever, mesmo que de uma forma ligeira, los fundamentos desta manutenção bem sucedida:

“O morse contorna as barreiras linguísticas de uma forma absolutamente internacional”

Para os fins que se pretendiam, la cobertura que proporcionava la frequência de 500 Kcs. era a ideal; seu alcance normal (e estável), durante as horas solares vinha a ser, em mar aberto, entre as 200 e as 400 milhas náuticas, dependendo da potência do emissor e das características da antena. Durante a noite, esta distância duplicava, e em determinadas ocasiões triplicava, sobretudo nas longas noites de inverno.

Por outro lado, com a utilização da telegrafia, conseguia-se que o alcance ainda fosse mais eficaz, característica que favorecia que las chamadas de socorro muito distantes ou as efectuadas em condições precárias e com muito baixa potência, como sucedia quando se transmitia a partir de um bote salva-vidas com o equipamento de socorro (de cerca de 5 W de potencia na antena), os sinais fossem captados e audíveis a distâncias consideráveis. Por outro lado, o código Morse, era universal, e assim também os códigos e abreviaturas que se utilizavam, com o que se ultrapassavam as barreiras linguísticas num âmbito absolutamente internacional.

Com estas premissas, a rede de estações costeiras foi estendendo-se conforme a “Telegrafia sem fios” (TSH), passava a ser comum nos barcos, e não tardou muito para que, salvo nas costas desabitadas, ou sem o mínimo de avanço tecnológico, o litoral marítimo mundial ficava dentro da cobertura dos 500 Kcs., reforçada com o que proporcionavam os barcos em navegação, que a estendiam até o infinito, ao permanecerem todos atentos á frequência ao largo de todas as rotas marítimas, proporcionado um suporte “quase” total em todos os mares do planeta.

Estação costeira do Cabo de Palos Radio, nos anos sessenta do século passado. Foi inaugurada em Dezembro de 1913. (Foto: cortesia do Arquivo Regional da Região de Murcia).

Estação costeira do Cabo de Palos Radio, nos anos sessenta do século passado. Foi inaugurada em Dezembro de 1913. (Foto: cortesia do Arquivo Regional da Região de Murcia).

Por outro lado, no tempo em que esta expansão se produzia, nunca se deixou de se legislar com o objectivo de ir adaptando o Regulamento Internacional que regulava estas comunicações às necessidades que a técnica e a experiencia exigiam. Tão eficaz e tão bons resultados produziu esta continuada regulação, que hoje em dia, a normativa que se aplica nas comunicações de socorro e segurança no “Sistema Mundial de Socorro e Segurança Marítima (SMSSM)”, técnica e procedimento que em finais do século passado veio a relevar ao “Sistema Convencional”, é praticamente a mesma, incluindo o sinal de socorro SOS que se bem não se transmita como tal, figura em todas as mensagens da mesma maneira que em radiotelefonia se continua a utilizar a expressão MAYDAY que deve pronunciar-se “MEDÈ” e não “MEYDEY”, como se houve dizer no cinema.

QUANDO SE TRANSMITIU O PRIMEIRO SOS E QUE SIGNIFICA?

Antes de passar a dar este detalhe, não será demais fazer um esclarecimento sobre a origen do sinal de SOS, pois hoje, todavia está muito generalizada a expressão inglesa “Save our souls” (“Salvem nossas almas”) ou “Save our ship” (“Salvai nosso barco”), o que não é correcto. Foi escolhido SOS pela cadência e musicalidade que estas três letras têm transmitidas como uma só, quer dizer, sem intervalo entre cada una delas, formando uma só “nota” (foi Guillermo Marconi quem o propôs). A propósito, pese a crença popular, o “Titanic”, cuja catástrofe impulsionou definitivamente grandes medidas de segurança no mar, não pediu auxílio com este sinal o que só ocorreu horas mais tarde, quando comunicou com o seu gémeo o “Olimpic”. O que transmitiu em primeira instância e durante todo o tráfego de socorro, foi o sinal CQD (Chamada geral de perigo), quando havia mais de um ano que se havia adoptado plenamente a utilização do SOS.

O primeiro SOS, foi transmitido pelo transatlântico norte-americano Minennhaha (13.500 toneladas), a 18 de Abril de 1910, ao ficar encalhado numa das ilhas Scilly. Foi recebido pela “Lizard Radio” (posteriormente rebaptizada como “Land Send Radio”, estação situada no sul de Inglaterra.

No transatlântico, com uma tripulação de duzentos e cinquenta homens, viajavam sessenta e quatro passageiros e nos seus porões transportava, para além de carga geral, numerosas cabeças de gado (vacas em sua maioria). Não houve que lamentar vítimas nem entre os seres humanos nem entre os animais. Resgatados os primeiros, os segundos foram lançados á água e alcançaram terra por si próprios.

O seguinte de que tenhamos noticia, e se menciona para o que nos interessa, foi transmitido pelo Delhi (8.000 t), um transatlântico Inglês que encalhou numa praia a sul do cabo Espartel, (extremo ocidental do norte de Marrocos) a 12 de Dezembro de 1912. A mensagem foi captada por “Cádiz Radio”, que havia sido inaugurada no ano anterior. Seus novecentos passageiros puderam ser resgatados graças á sua intervenção, alertando os barcos que se encontravam nas proximidades, coordenando a operação de salvamento.

COMO SE GARANTIA A ESCUTA NOS 500 KCS?

Antes de mais, convém dizer que todas as estacões do “Serviço Móvel Marítimo”, tanto estacões costeiras como de barcos, tivessem a nacionalidade que tivessem, e estivessem a navegar em qualquer latitude, operavam de acordo com o horário do meridiano de Greenwich (GMT), actualmente denominado “Universal Time Coordinated (UTC)”, “Tempo Universal Coordenado”, em Português e algo tão importante ou mais: também todas contavam com um relógio como o da fotografia, cujas características, importantes para a rádio, se apresentação será feita mais á frente.

Em terra, a responsabilidade da escuta recaía nas estações costeiras, operadas as 24 horas (24h). No mar, era garantida por todos los barcos com uma tonelagem igual ou superior às 1.600 t. em turnos de 8, 16 e 24 horas, em função dos operadores de rádio com que contava a estação, número que era determinado por categoria de barco: Transatlânticos, mínimo de três operadores: 24h. Navios mistos de mercadoria e passageiros um mínimo de 2 operadores: 16h. Navios Mercantes e de Pesca em geral pelo menos um oficial: 8h.

Como alternativa a esta escuta humana, todos os barcos contavam com um receptor independente, um alarme automático que se activava quando, por motivos que fossem relativos à frequência de 500 Kc/s e permanecia desatendido fora dos períodos de trabalho do operador. Este aparelho activava um sinal acústico, tanto na ponte de comando como no camarote do oficial de rádio, alertando de imediato a recepção de uma mensagem de SOS. A emissão que provocava o “disparo” do alarme, consistia numa série de doze traços de quatro segundos de duração cada um, transmitidos num minuto, com intervalos de um segundo entre cada traço. A transmissão desta sequência podia realizar-se, bem manualmente com o manipulador da chave telegráfica, ou melhor de forma automática, com um aparelho que fazia a mesma função. O “roteiro” para a operação manual eram os doze segmentos vermelhos que o relógio da estação de rádio tinha pintado ao redor do círculo. De qualquer maneira, o normal é que o sexto ou sétimo traço, já disparavam os alarmes nos barcos que estivessem dentro da zona de cobertura. Transmitido o alarme, o barco em perigo devia esperar (se a situação o permitia) dois minutos antes de transmitir a mensagem de socorro, dando tempo a que os operadores que não estivessem á escuta nesse momento tivessem tempo para prepararem-se para receber o SOS.

A transmissão desta sequência podia fazer-se bem manualmente com o manipulador ou chave telegráfica, ou melhor de forma automática, com um aparelho que fazia a mesma função. O “roteiro” para a operação manual eram os doze segmentos vermelhos que o relógio da estação de rádio tinha pintados ao redor do circulo (Ver a fotografia).

Relógio de acordo com o regulamento das estações de rádio do Serviço Móvel Marítimo.

Relógio de acordo com o regulamento das estações de rádio do Serviço Móvel Marítimo.

De qualquer maneira, o normal é que o sexto ou sétimo traço, já disparavam os alarmes nos barcos que estivessem dentro da zona de cobertura. Transmitido o alarme, o barco em perigo devia esperar (se a situação o permitia) dois minutos antes de transmitir a mensagem de socorro, dando tempo a que os operadores que não estivessem á escuta nesse momento tivessem tempo para prepararem-se para receber o SOS.

Este sinal e o consequente SOS (repetido três vezes) seguido da identificação do barco, hora, posição e natureza do perigo, deviam emitir-se (preferencialmente) durante os “períodos de silêncio”, tempo durante o qual cessavam todas as emissões na frequência em questão com o fim de facilitar a escuta de sinais mais débeis. No relógio da fotografia, estes períodos estão assinalados em vermelho. Los verdes, correspondiam a los de la frequência de socorro e segurança em radiotelefonia de 2.182 Kcs.

Olive J. Roeckner, uma das primeiras mulheres operadoras de radio (1947).

Olive J. Roeckner, uma das primeiras mulheres operadoras de radio (1947).

A estas comunicações de socorro que, como é lógico, tinham prioridade sobre o resto das que se estabeleciam na frequência que estamos tratando, seguiam-se em importância e prioridade as relativas à segurança marítima em geral, encabeçadas pelas comunicações de urgência. Cujo sinal de anuncio consistia num grupo de três “X” repetido três vezes (XXX XXX XXX). Este sinal advertia que em seguida se ia transmitir uma mensagem muito importante para a segurança da navegação, como por exemplo: a formação dum furacão ou a queda de um homem ao mar. Os de urgência seguiam-se, em prioridade, são as mensagens de segurança que se anunciavam com um grupo de três “T” repetidos três vezes (TTT TTT TTT), sinal que precedia os “avisos aos navegantes” (objectos perigosos á deriva, faróis apagados, exercícios de tiro, etc). Os XXX que anunciavam um perigo grave e eminente, se anunciavam durante o primeiro minuto de cada uno dos períodos de silêncio.

Estação de rádio típica de um navio mercante (dos anos oitenta do pasado século).

Estação de rádio típica de um navio mercante (dos anos oitenta do pasado século).

Um apontamento mais: quando a frequência estava ocupada com tráfego de socorro, algo que por desgraça não era nada raro, as restantes comunicações, incluindo as de segurança, realizavam-se na frequência alternativa de 512 Kc/s. Libertando a principal dedicada exclusivamente ao desenvolvimento do tráfego de socorro.

ALGO MAIS SOBRE OS 500 Kcs

Inserida nesta protecção vital, a frequência (sagrada para os marinheiros) também foi o vínculo invisível de todos os navegantes, e em particular para as “rádios”, para os que consideravam algo assim como um “fórum” no qual em qualquer momento poderiam obter qualquer tipo de ajuda ou informação, como podia ser a retransmissão de uma parte do boletim meteorológico ou pedir ajuda perante uma avaria; bastava fazer uma “chamada geral” (CQ CQ CQ) indicando o que se solicitava para, de imediato, receber a informação de um punhado de colegas dispostos a prestar o auxilio solicitado.

Ilustração cortesia a autora, Mª de los Ángeles Oliva.

Ilustração cortesia a autora, Mª de los Ángeles Oliva.

“Que esta frequência permaneça em silêncio ao longo de todos os tempos”

Para finalizar, no queria deixar de aproveitar a difusão que “Adelantos Digital” tem em todos os âmbitos para lançar o repto aos organismos ou entidades espanholas relacionadas com o mar ou as comunicações, a juntar-se á iniciativa de outros países que deram início ao pedido dirigido á UNESCO, solicitando o reconhecimento dos 500 Kcs como “Património imaterial da Humanidade”. Ignoro qual é o progresso da petição nesta altura, mas seja qual for, nunca será tarde para que a Espanha figure entre os solicitadores. De momento, na “Unión Internacional de Telecomunicaciones” (UIT), há um acordo tácito não escrito, para que esta frequência permaneça em silêncio ao longo de todos os tempos.aparato-morse


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